sábado, 27 de outubro de 2012

Entrevista - Kaapora




Antes de mais nada, é preciso dizer: uma das melhores e mais interessantes entrevistas da curta história do blog! Essa banda apareceu do nada e, com dois anos de existência, já pode ser considerada um monstro do underground alemão. Com um importante detalhe: a Kaapora conta com o ex-integrante da Necrotério Evandro Maidl, que abandonou o baixo em seu antigo grupo e agora se dedica a urrar no atual, que lançou previamente alguns materiais e acaba de soltar o excepcional ‘debut’ “Distainer”, que já entra com folga na lista dos melhores de 2012, na opinião deste humilde entrevistador. Curiosos? Baixem o novo petardo! Os outros integrantes são Gerni (bateria), Nico (guitarra) e Giant (baixo). Apreciem, vale a pena degustar cada resposta do senhor Evandro.


Som Extremo: Você mora na Alemanhã desde 2005. Como foi sua adaptação? Chegou a ter outros projetos antes da Kaapora?

Evandro: A adaptação foi na marra mesmo. O começo foi muito difícil, principalmente o primeiro ano. O idioma complicado, a dificuldade de se expressar, de lidar com a reação das pessoas quando percebiam que eu era estrangeiro, tudo isso foi muito difícil. Tive depressão e passei situações meio chatas. Depois que comecei a dominar o idioma, melhorou, mas ainda assim às vezes é complicado.
Antes da Kaapora, cantei numa banda chamada SKR8 (lê-se "Es Kracht") e toquei baixo por alguns meses numa banda chamada Korades, onde conhecí o Nico, nosso guitarrista.



Som Extremo: Você abandonou o baixo, quando tocava na Necrotério, para se dedicar ao vocal. Como foi essa adaptação? Não sente falta de tocar as quatro cordas?

Evandro: Bem, em primeiro lugar, saí da Necrotério em 2004 e depois disso deixei o instrumento de lado, pois não fazia mais sentido pra mim prosseguir tocando sem estar nesta banda, que foi quem me iniciou no baixo. Minha relação com esse instrumento sempre foi meio preguiçosa. Eu não tinha paciência pra praticar, não me dedicava e nunca evoluí tocando, sempre fiz o feijão com arroz básico e sem sal. Não sinto falta nenhuma de tocar baixo, pois nunca fui um baixista dedicado. Tive um “revival” em 2007, quando fui convidado pra tocar na Korades em alguns shows e festivais, mas depois que saí da banda, nunca mais peguei num baixo. Hoje em dia componho usando uma guitarra velha e, apesar de não saber tocar nada, quebro uns galhos escrevendo nossas músicas (risos).
Na Necrotério eu já dava uns berros e sempre achei muito interessante a técnica que nosso vocalista da época, o Gustavo, usava pra urrar. Ele era muito bom e não tinha dificuldade nenhuma em cantar daquele jeito, e então, quando tive a oportunidade de arriscar, aproveitei com a SKR8. No começo eu fazia só aqueles vocais berrados mais rasgadões, mas com o tempo fui aprimorando e variando o estilo de cantar. Tenho muito o que melhorar, mas isso vem com o tempo e ensaios.



Som Extremo: A Kaapora surgiu em 2010. Como tem sido a evolução da banda nesses dois anos de atividade? E qual o significado do nome?

Evandro: Em dois anos mudamos um pouco a formação. Tínhamos dois guitarristas, mas um deles saiu no final de 2011. Resolvemos ficar só com uma guitarra, pois não tinhamos mais saco de procurar as pessoas certas e essa mudança teve uma influência importante na hora de compor e tocar. Com uma guitarra, você fica muito mais limitado, mas por outro lado, de certa forma as músicas ficaram um pouco mais cruas e diretas. Tivemos também alguns problemas com baixistas, mas desde o final de 2011 o Giant está na banda ocupando seu posto muito bem. Temos feitos alguns shows e acabamos de gravar nosso CD.
O nome da banda vem do Tupi-guarani e significa “aquilo ou aquele que vive no mato”.



Som Extremo: Vocês lançaram os EPs “Kaapora” e “Awaking the Dead” antes do novo disco, é isso mesmo?

Evandro: Bem, o primeiro foi na verdade uma demo gravada ao vivo, lançada meio que secretamente e acho que umas três ou quantro pessoas devem ter cópias desse material (risos). De fato, o primeiro lançamento foi o EP-DEMO “Awaking the Dead” de 2011.



Som Extremo: O som de vocês mistura vários estilos extremos, mas parece cair mais para o Death Metal. É essa a principal influência de vocês?

Evandro: Cara, sinceramente não sei. Claro, Death Metal é uma grande influência, mas ouvimos de tudo e na hora de compor, não penso em estilos. Sempre ouvi e ouço muito Death Metal, assim como os outros integrantes, acho que isso se faz ouvir na música. Mas temos gostos bem variados e todos trazem suas ideias e influências na hora de fazer barulho. Hardcore e Grindcore estão também muito presentes nas nossas composições.



Som Extremo: Está saindo do forno o maravilhoso ‘debut’ “Distainer”. O que pode falar sobre o lançamento?

Evandro: O álbum foi gravado no nosso porão de ensaios e produzido por nós mesmos. As músicas foram compostas desde 2011, sendo que algumas estavam presentes na demo e foram regravadas. O lançamento é independente e a distribuição está sendo feita por nós mesmos.


Som Extremo: O novo material está mais extremo do que os registros anteriores. Concorda com isso? Se sim, como se deu essa “conversão”? (risos)

Evandro: Conversão soa realmente interessante (risos). Converter-se para a música extrema me agrada bastante! Bem, acho que na verdade o álbum contém mais músicas, e assim sendo, mais espaço para outras que não estavam nas demos, dando a impressão que está mais extremo. Nós começamos a compor e gravar material já nos primeiros meses da banda e estamos no processo de encontrar nossa identidade ainda. No começo, optamos por gravar nossas músicas mais cadenciadas que, se forem comparadas com as do discos, soam um pouco mais lentas. O “Distainer” ainda tem um lado bem cadenciado, mas concordo que no geral soa mais extremo que os registros anteriores.



Som Extremo: A masterização contou com Patrick W. Engel (Candlemass, Dissection, Heaven Shall Burn). Houve alguma influência sua nas composições?

Evandro:  Zero. Quando entramos em contato com ele para fazer o trabalho, o álbum já estava praticamente gravado. As únicas dicas, muito valiosas por sinal, que o Engel nos deu, foi para a mixagem, que foi feita pelo nosso batera. O Gerni nunca tinha mixado um CD antes, mas com muita dedicação e algumas dicas de pessoas mais experientes, ele fez um trabalho excelente!



Som Extremo: “Distainer” saiu de forma totalmente independente. Na sua opinião, é mais fácil produzir um disco dessa forma ou vocês tentaram procurar algum selo?

Evandro: Não sei se é mais fácil. Nunca produzi um disco sob a batuta de um selo, só de maneira independente. Nossa vantagem é que fizemos toda a gravação e produção nós mesmos, o que tirou um monte de pressão de nossas costas. Tínhamos todo o tempo do mundo para gravar sem nos preocupar em estourar o orçamento de horas no estúdio, por exemplo. Nós queríamos lançar um CD primeiro, ver a reação do público, e só então buscar um selo. Somos uma banda nova, com muita coisa para conquistar ainda, e não acho que um selo se interessaria pela gente sem antes ter um material decente lançado. Agora estamos começando o processo de busca por um selo, nem que seja pra distribuir o material. Seria muito legal lançar o CD no Brasil, por exemplo. Portanto, se algum dono de selo brasileiro estiver lendo essa entrevista e quiser inverstir uns milhões numa banda de muito potencial para alavancar vendas absurdas,  pode entrar em contato (risos).



Som Extremo: Todas as faixas, exceto uma, são cantadas em inglês. Por que escolheram a música “Neurastênico” para ser cantada em português? E no que a letra foi inspirada? Aliás, como surgiu a ideia de ter uma versão em alemão – “Neurastheniker” – com participações especiais, como bônus? Por fim, por que optaram por deixar um início totalmente silencioso nela?

Evandro: A “Neurastênico” já surgiu assim, em português, na minha cabeça! Primeiro surgiu o título ifluenciado por uma entrevista que ví no Jô Soares, quando ele chamou o convidado dele de neurastênico. Se não me engano, era aquele tal de Felipe Neto, que faz uns vídeos no You Tube, metendo o pau e reclamando de tudo, não sei se você conhece (N.R.: conheço). Ouvi a palavra e resolví pesquisar o significado, aí tive a ideia de escrever uma letra e a música, pois tem tudo a ver com como me sinto muitas vezes: mal humorado, esgotado, achando tudo e todos irritantes. Acho que a vida nessa sociedade capitalista e extremamente consumista cheia de competições bestas me tornam um pouco amargo em certos momentos. Fico puto quando me dou conta que faço parte dessa máquina, e apesar de ser só mais uma frágil e pequena engrenagem, colaboro de certa forma com essa merda toda que está lá fora. Todos nós, na verdade, o fazemos, quando trabalhamos em empregos miseráveis que odiamos, para comprar porcarias das quais não precisamos, para impressionar pessoas que não suportamos.

A faixa em alemão, usamos para homenagear dois amigos da banda e duas bandas que foram muito importantes para a Kaapora, o Korades e o SKR8. O Torsten foi nosso primeiro baixista e o Jörn era meu companheiro da outra banda. Somos amigos até hoje e achamos a ideia bacana de “dar” uma faixa pra eles. Chamamos eles pra uma festa na sala de ensaios e fizemos a adaptação espontaneamente. O silêncio antes da música foi mais pra passar a impressão de que a última faixa é um adendo ao álbum, um pequeno complemento que vem depois de tudo ter passado, não faz necessariamente parte do set list.



Som Extremo: Planos para um videoclipe?

Evandro: Sim, com certeza, mas não pra já. O Giant até está desenvolvendo umas ideias para um roteiro, mas não passam de planos ainda. No momento estamos mais concentrados em buscar shows e promover o CD.



Som Extremo: Como você compararia a cena underground brasileira com a alemã?

Evandro: Complicado, acho que não dá muito pra comparar. São mentalidades muito diferentes, pelo menos quando comparo com o tempo que vivi o underground brasileiro ativamente. No Brasil, as bandas têm que lamber solas de sapato pra poder tocar. Quando organizam um show, a maioria dos “produtores” fazem questão de te mostrar que estão fazendo um favor pra tua banda. Muitos não levam a música pesada a sério e desta forma organizam eventos escrotos só pensando em se auto-promover. Não vou só meter pau, conheci muita gente séria na cena brasileira, com ideias espetaculares e muita criatividade e força de vontade, mas a maioria padece devido à mediocridade que impera. São uns poucos remando conta a maré, que mostram que o potencial está aí, só falta mais colaboração. Na questão do público, gosto muito do brasileiro, mais quente, fervoroso e, no geral, bem mais animado do que aqui. O brasileiro tem um jeito especial de curtir Metal e começou a valorizar muito as bandas locais, o que é muito bom.
Na Alemanha, o público passa aquele ar mais culto, mais crítico. Dificilmente um show é agitado e quando a galera gosta da sua banda, manifestam isso de outra forma. Não vêm correndo e te abraçam no fim do show ,com aquela sovaqueira suada, e falam ‘meu, do caralho’, como muitas vezes no Brasil (risos). Aqui são, no geral, mais sossegados, e se curtem a banda, compram o CD depois do show. Bem, na verdade, pode ser que eu esteja falando um monte de bobagens aqui (risos). Na verdade não tem como generalizar. São só minhas impressões sobre o assunto. Resumindo, posso dizer que aqui tem muito mais condições pra se armar um show ou tour, uma banda bem organizada consegue se sustentar na estrada durante uma turnê. Materialmente e na questão da organização, a Alemanha está séculos luz à frente do Brasil quando se fala em música extrema, mas no Brasil rola um amor maior pela coisa. Acho que tudo tende a melhorar na cena nacional, principalmente porque muitas bandas gringas já descobriram o potencial do público brasileiro e constantemente fazem excursões por aí. Isso é bom, pois traz um intercâmbio importante e o pessoal não fica bitolado num mundinho fechado.



Som Extremo: Como estão os planos para tocar no Brasil?

Evandro: Em fase fetal, pra falar a verdade (risos). Por enquanto é só uma vontade muito grande mesmo. Isso envolve uma organização muito grande de nossas vidas particulares, empregos, estudos e dinheiro, pois as passagens aéreas são muito caras. Sabemos também que no Brasil não dá pra se sustentar com shows underground, ainda mais sendo uma banda desconhecida como a gente. A vontande está aí, vamos nos esforçar para realizar esse sonho,  não sei quando vai rolar, mas vai rolar.



Som Extremo: Agradeço muito a entrevista, Evandro! Por favor, deixe uma última mensagem.

Evandro: Caindo no clichê (risos), muito obrigado pelo espaço e pela entrevista, Christiano. Espaços como este que você nos proporcionou são muito importantes para as bandas na era da internet. Gosto muito do seu trabalho e acompanho seu blog, por isso é um prazer ter feito esta entrevista. Grande abraço a você e todos os seus leitores, e não deixem de conferir a Kaapora no Facebook ou nas outras mídias digitais. Quem quiser encomendar um CD, é só entrar em contato. Fazemos um precinho camarada para exportação (risos).

Mais informações:

2 comentários:

  1. du caralho!! Parabéns mais uma vez Christiano!!
    Força ai p/ Kaapora, vou conferir o material, com certeza!! E espero vê-los em cima do palco!!
    Abs!!
    Stanley

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  2. Legal! Obrigado! Vamos fazer de tudo pra ir pro Brasil num futuro próximo!!!

    Abraços,

    Evandro + Kaapora

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