sábado, 28 de julho de 2012

Especial Ratos de Porão: resenhas e entrevista com Juninho Sangiorgio

Nesse mini especial, acompanhe resenhas de dois clássicos da RDP relançados, seguidas de uma interessante entrevista com o baixista da banda, Juninho Sangiorgio.


Ratos de Porão – Brasil
Eldorado/Voice Music – 1989/2012 (relançamento) - Brasil


Ao me preparar para dormir, decidi reviver toda a emoção de escutar o primeiro CD que comprei na vida: “Brasil”. Só que dessa vez, foi escolhi o relançamento da Voice Music, que colocou o material no mercado em formato digipack, com três bônus e um encarte reformulado, com várias fotos da época.
Não é à toa que o disco é tido por uma enorme parte dos fãs como favorito (e estou inserido nessa fatia) da discografia da RDP: tudo nele é perfeito, desde letras (muito atuais ainda), produção, arranjos, performances, ilustração da capa, enfim, tudo mesmo.
Quem consegue se segurar ouvindo clássicos absolutos como “Beber até Morrer”, “AIDS, Pop, Repressão”, “Crianças Sem Futuro”, “Vida Animal”, “Herança” e vários outros? A injustiça, aliás, é toda a lista não ser chamada de clássica, mas enfim...
Talvez nunca tenha se visto um João Gordo (vocal) tão afiado, um Spaghetti (bateria) tão veloz, o Jão (guitarra) tão irado e um Jabá (baixo) tão empenhado.
Talvez alguns não saibam, mas a banda gravou, na época, duas versões do álbum: uma em português e outra em inglês (assim como fez com “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” e “Anarkophobia”). As faixas bônus, portanto, foram tiradas da versão “gringa”: “Bloody Pig”, “Animal Life” e “Military Machine”.
                O lance é que é impossível explicar o quão bom é esse trabalho. Peço licença para mencionar um fato pessoal e realmente inesquecível e histórico: em 2007, a RDP tocou no festival Araraquara Rock, ocorrido na cidade de mesmo nome, no interior de São Paulo e, surpreendendo (mesmo) todos, após tocar alguns clássicos da carreira, Gordo vai o microfone e anuncia: “Nós nunca fizemos isso na vida. Será a primeira vez. Vamos tocar ‘Brasil’ na íntegra”. Pra quê? Entrei em transe e só me lembro de, após a apresentação, ter voltado para a casa sem pescoço e completamente rouco. Era uma prévia e tanto do que seria a comemoração dos vinte anos desse marco.
Pra falar de boca cheia: uma das maiores, se não a maior OBRA-PRIMA do Hardcore/Crossover nacional! Nota 11 com extremo louvor!

Nota 11,0


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Ratos de Porão – Anarkophobia
Eldorado/Voice Music – 1990/2012 (relançamento) – Brasil


Quase tão clássico quanto o ‘full length’ anterior – “Brasil” –, “Anarkophobia” conta com uma produção mais apurada e limpa, além de uma sonoridade um pouco mais trabalhada. Nem por isso deixou de ser uma tremenda porrada na fuça.
Existem aqui também faixas espetaculares, como “Sofrer” (letra fantástica, sempre presente nos shows), “Ascenção e Queda” (fenomenal, tanto o instrumental quanto o modo como o canto é encaixado), “Mad Society” e a insuperável “Igreja Universal”.
E apesar de não ser assim tão lembrada (embora venha sendo executada atualmente), “Ódio³” é um primor. O lindo começo acústico, transformado em sofrimento (barulhento) é de tirar o chapéu. Violentíssima! E para constar: o petardo conta com o cover de “Commando”, dos reis do Punk, Ramones.
E falando em letras, elas, que sempre foram um dos pontos fortes da banda, merecem destaque ainda maior neste trabalho: além da citada “Sofrer”, outras maravilhas como “Escravo da TV”, “Contando os Mortos” e, para quem simpatiza com ideologia da RDP, a também mencionada “Igreja Universal”, contam com conteúdos inspiradíssimos.
Este trabalho também foi relançado recentemente em digipack pela Voice Music e conta com cinco bônus: “Jardim Elétrico”, “(All We Need is) Hatred”, “Death of the King”, “Counting the Dead” e “Universal Church”. À excessão da primeira, cover da Mutantes, as demais são versões em inglês de músicas do próprio CD.
 Além disso, o encarte reelaborado, com mais fotos. Oportunidade para ouvir esse grande material não falta, portanto, já que está fácil de adquirir.
Mais um disco soberbo na carreira dessa ratazana, considerada um dos mais importantes grupos do planeta no Hardcore/Crossover. Não é para menos. E “Anarkophobia” é (mais) um grande atestado dessa verdade absoluta.

Nota 8,5

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Entrevista - Juninho Sangiorgio


Cá está o blog em sua segunda entrevista com Ratos de Porão. Em 2011, João Gordo a concedeu (ler aqui) e agora, é a vez do simpático baixista Juninho Sangiorgio, último membro a compor a formação atual do time, falar muita coisa interessante. Duvida? É só continuar lendo...


Som Extremo: A que você acha que se deve o carisma da RDP?
Juninho: Por ser uma banda formada por amigos. Ninguém tem “obrigação” de ser gente fina, de manter esses anos de banda. Tudo isso acontece porque todo mundo é bem amigo e está nessa pelo som e pela amizade, então isso reflete de certa forma como carisma para o público.

Som Extremo: Essa formação do Ratos parece ser a mais estável de toda a história do grupo. Em sua opinião, por que acha que houve tantas mudanças, especialmente de baixistas?
Juninho: Eu conheço todas as histórias das saídas dos baixistas e, pela boca dos caras, é só um pouco mais de detalhes do que no filme “Guidable”, que conta todas essas passagens dos membros. Acho que foram momentos específicos ali que os caras não estavam mais na mesma vibe dos outros integrantes. Eu entrei na banda e me moldei totalmente aos caras, pois você imagina a quantidade de vícios em fazer as coisas que eles já têm, então, entrando na vibe deles, tudo rola bem.


Som Extremo: Todos os membros são focados em fazer a sonoridade característica da banda ou cada um traz elementos destoantes, mas que no fim conseguem adaptar às composições?
Juninho: As influências para composições são bem genéricas. As ideias vêm de todos da banda e cada um tem sua forma de pensar, mas no final, sempre fica com cara de Ratos, pois se tornou bem característico a forma de cada um tocar ali, ao ouvido de todos.

Som Extremo: Em uma entrevista feita com o Gordo em 2011, ele disse que queria fazer umas músicas mais Grindcore, mas que não foi possível. Será que no próximo trabalho, o Ratos estará ainda mais extremo?  
Juninho: O Gordo tá ouvindo Grind pra caramba nos últimos tempos. Eu percebo pelos rolês da Europa: a gente chegava nos festivais e ia comprar só os discos mais podres que tinham nas banquinhas. O Ratos nunca vai virar Grind. Isso foi um pouco de força de expressão dele. Nossos sons novos tão bem porrada e bem violentos, digamos que tem muitas partes Crusts baseadas nas bandas de Grind (risos).


Som Extremo: Sua performance nos palcos é caracterizada por saltos empolgados, aliás, é algo que sempre chama a atenção nos shows. O que pode dizer sobre isso? Veio de maneira natural ou você queria uma marca registrada?
Juninho: Veio de maneira natural. Tem uns vídeos meus da época do Self Conviction, em 97, que tô lá tocando e dando uns saltos. Acho que consigo saltar meio alto pelo fato de ignorar o peso e tamanho do baixo nos shows, porque se fosse ficar pensando muito nisso, não sairia do lugar. Mas a música faz ali seu papel de entrar na mente de uma forma incrível e aí, a vontade de agitar flui.

Som Extremo: E sobre o DVD do show com a reunião celebrando os trinta anos de RDP, houve um problema no áudio, certo? A situação já foi contornada? Há previsão de lançamento?
Juninho: Isso está meio confuso, tivemos um problema técnico no áudio e perdemos muitas músicas ali por esse motivo. Ainda estão rolando umas reuniões para ver o que vai acontecer e por enquanto, também sem previsão, mas a situação será contornada sim.

Som Extremo: Existe a possibilidade de que vocês façam uma nova comemoração, para regravar todo o material? Se sim, será que agora o Pica Pau apareceria?
Juninho: Temos sim esse projeto, ficou muita gente pra fora do show que fizemos ano passado no Hangar e, fora esse, tem muita gente fora da cidade pedindo esse show.
É difícil de fazer, é gente demais, equipamento, passagens de avião e o pior de tudo, agendar uma data legal para todos, mas vamos torcer pra rolar sim. O Pica Pau não vai não, o negócio dele é outro.

Som Extremo: Além do Ratos, você tem projetos paralelos?
Juninho: Tenho sim, alguns por sinal. O mais ativo é O Inimigo, onde toco guitarra e, nos últimos tempos, me dediquei bastante à banda. Gravamos um disco, fizemos muitos shows e também, para o futuro, tem bastante coisa marcada. Além dessa, também toco no Eu Serei a Hiena, uma banda bem mais tranquila, mais na linha Sonic Youth, Fugazi, só sons instrumentais e, no momento, estamos fazendo poucos shows. E o Discarga, que é onde a galera do Ratos me conheceu, mas no momento nosso vocalista mora fora do país e a banda está parada.



Som Extremo: Em 2007, vocês comemoraram vinte anos do disco "Brasil" - tido por muitos fãs como o mais querido - tocando o álbum na íntegra. Na ocasião, Araraquara/SP foi a primeira cidade onde realizaram o intento, ao tocarem no Araraquara Rock. Como avalia a performance de vocês naquele show?
Juninho: Na verdade o “Brasil” completou vinte anos em 2009, mas de qualquer forma, foi um show especial que estávamos ensaiando para tocar na Verdurada aqui em São Paulo. Como o show de Araraquara foi um dia antes, aproveitamos para mandar bala ali mesmo. Quem viu, acho que jamais esquecerá! (N.R.: ele está certo)



Som Extremo: Dentro disso, mesmo não estando na banda na época, como avalia a importância do relançamento de “Brasil” e “Anarkophobia”?
Juninho: São dois monstros da discografia mundial do Crossover. Os discos estavam sumidos, daí o Silvio, do Korzus, mexeu os pauzinhos para relançar. Eu acho demais ter saído em digipack também. Bom, o “Brasil” é meu disco favorito do Ratos; na sequência, vem o “Carniceria Tropical”, e vou te falar que são os dois discos que eu mais escuto para compor sons. O “Anarkophobia” é demais! Apesar de ter umas partes muito longas e tal, eu gosto muito e, ultimamente, estamos tocando o começo dele nos shows.

 
Som Extremo: O que pode adiantar sobre o tributo ao RDP? Quais as bandas que farão parte da homenagem e quando será lançado? Por qual selo?
Juninho: Detalhes, eu ainda não sei te passar. Sei que nosso camarada Dru está fazendo todo o corre de falar com as bandas, trocando mil e-mails, e organizando tudo. Sei também que vai ter Cripple Bastards, Korzus, Kriziun, Leptospirose, Macakongs, ByWar, HillBilly RawHide etc (N.R.: Violator também fará parte).


Som Extremo: E sobre “No Money No English”, que está sendo lançado agora, o que pode dizer? Existem faixas já de quando você estava na banda? Qual a previsão para lançamento em CD?
Juninho: Eu peguei uma cópia aqui esses dias e vou te falar que está legal pra caramba!! O som ficou muito bom, a arte toda com aquela capa do Marcatti, demais!!
Só tem músicas da fase do Fralda pra trás, não tem nada comigo ali. Também não sei te dizer quando sairá em CD, mas como foi lançado pela Läjä Records, só escrever ali pros caras quem tiver interesse, que eles informam.

Som Extremo: Além de mais esse material, vocês já estão com composições para um novo trabalho, certo?
Juninho: Estamos sim. Os ensaios semanais estão indo bem, um pouco devagar, mas tá rolando (risos). Já temos uns oito sons, tá tudo bem rápido, bastante barulheira misturada com Metal. Eu tô curtindo pra caramba e certeza que vai sair um ótimo disco. Tínhamos um plano de marcar a gravação para novembro, não sei se vai manter ou adiar. Será gravado aqui no Brasil mesmo, lá no estúdio do Rafael, da Deck no Rio.


Som Extremo: De sua entrada no RDP até hoje, de que forma você acha que influenciou na banda? Desde compor músicas, até mudar os hábitos alimentares do Boka e do Gordo, enfim, tudo (risos)!
Juninho: Acho que minha influência maior é de ser straight edge. Isso veio em uma época em que todos da banda estavam dando uma boa freada nas paradas de doideiras, daí eu era um a menos no time, que não usava nada. Aí, rolou naturalmente uma diminuída legal nesse sentido. O Boka já era vegetariano desde antes de eu entrar na banda, mas com o Gordo virando depois, rolou uma influência sim. Ele me ligou na época, estava fazendo uma dieta totalmente vegetariana e achando legal. Eu o incentivei a continuar assim para ver o que ele achava e tal, daí, no final, o cara está sem comer carne há uns anos, legal demais! Na parte musical, é uma cabeça a mais para pensar e dar ideias, então isso só tem a somar no time. Eu chego com umas bases, o Jão toca elas do jeito dele, fica uma mistura que funciona.

Som Extremo: Para finalizar, existe algum fato interessante sobre o Ratos de Porão que nunca foi revelado?
Juninho: Existem vários!!! Mas se depender de mim, vão continuar assim!!!


Som Extremo: Agradeço a entrevista, Juninho. Por favor, deixe seu recado final.
Juninho: Eu que agradeço a entrevista e peço desculpas pela demora na resposta. Saí de rolê com a namorada, fiz mil shows, adotei e doei cachorro, muita correria... valeu!!!





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